Foi pelo break que Ana Paula entrou no Hip Hop. Por muito tempo, dançou e compartilhou suas experiências com crianças, adolescentes e adultos. No final dos anos 2000, batizada na cultura de Ana P., a dançarina ganhou visibilidade ao integrar o time do extinto programa Manos e Minas, da TV Cultura, onde ficou por dois anos. Paralelo à dança, ela também escrevia poesias, que logo se transformaram em músicas.
Com a apimentada “Ok Mama”, Ana fez sua estreia musical em 2011. Na companhia dela também estavam Thaíde e o DJ Maxnosbeatz, um dos seus incentivadores e quem desde então assina as produções dela. Imediatamente, chamou atenção pela desenvoltura nas rimas, atitude e a potência na voz.
Após participar do projeto As Minas, partiu para um voo solo em 2018 com “Ana Preta”, música que serviu como um segundo batismo. A partir dali ela assumiu de vez o nome artístico Ana Preta, e formalizou seu ingresso ao rap.
“Ana Preta é uma guerreira de luta, uma pessoa que renasceu a partir da cultura Hip Hop e foi construindo essa carreira que tem agora”, afirma. “Além de sonhar, batalha para conquistar seus objetivos, que um dia foram sonhos e passaram a ser realidade”.
Parte dessas realizações, o auto-intitulado álbum da preta de São Mateus, Zona Leste de São Paulo, mostra todas as suas habilidades com o jogo de palavras, a ginga e o suingue influenciado por algumas de suas referências: Donna Summer, Diana Ross, Missy Elliot, Queen Latifah, Roxanne Shante.
Nos 32 minutos e 38 segundos, distribuídos em 11 sons, Ana desenrola assuntos relacionados à sua vida e cotidiano, dos problemas às curtições. Musicalmente, tudo foi muito bem pensado para agradar qualquer tipo de ouvido e instantaneamente fazer o corpo se mexer, sem deixar a mente parar de se exercitar ao longo da escuta.
“O disco tem muitas temáticas do que vivi e presenciei, mas eu não quis dizer apenas isso”, observa. “Como muito do que passei são histórias que muitas pessoas também já passaram, tentei deixar as ideias mais abrangentes, tratando de nossas histórias e origens, mas eu não queria que fossem músicas “pra baixo”. Eu costumo dizer que as letras são pensantes, mas as batidas são dançantes. Fiz um álbum com letras conscientes e batidas dançantes”.
Uma das que mais convidam para o baile é “Volume Nesse Som”. Essa não era a opção principal para tratar de dança, a paixão de Ana, mas como o backup da outra se perdeu, foi necessário refazê-la. “Ter perdido essa primeira música acabou sendo bom porque nela só tinha eu mesma, era legal mas não excepcional”, reflete. Para a versão que entrou no disco, ela chamou Rose MC e a Ieda Hills.
Convidá-las foi uma maneira que Ana encontrou para prestar homenagem à história dessas mulheres pioneiras no Hip Hop, que assim como suas contemporâneas tiveram suas trajetórias apagadas. “Falei pra elas que é o disco de uma pessoa que tá começando agora, mas que eu gostaria de reverenciar pessoas que estavam lá ontem e continuam até hoje, elas estavam lá no início de tudo”, diz a MC, que também escalou as duas para o videoclipe dirigido por Thiago Nascimento e gravado na estação São Bento, berço do HH em SP.
“Elas já chegaram com tudo, rasgando os versos e eu achei tudo maravilhoso. A mensagem é de felicidade, que é uma parte importante do Hip Hop”, afirma. “O primeiro elemento no Brasil foi a dança e a São Bento é o emblema disso. Eu já tinha ido lá muitas vezes com o Thaíde, mas outra coisa diferente é ter sido batizada lá com a gravação desse clipe”.
Juntamente com essas duas personalidades icônicas, Ana Preta também compartilha o microfone com Thaíde, Arnaldo Tifu, Funk Buia e Déborah Crespo. Mesmo com essas presenças, buscou colocar sua verdade em cada verso.
“Se eu não vivi algo, mas presenciei, ou pessoas próximas presenciaram, isso norteou a temática do disco”, ressalta. “Fala sobre nossa raça e nosso povo de uma maneira dançante, já que, como dançarina, eu não tinha como não pensar nos dançarinos e coreografias”.