A cidade de São Paulo foi a inspiração para Lurdez da Luz criar a temática do show “Acrux”. O título possui duplo sentido, pois remete a crucificação e a brilhante estrela de SP na constelação Cruzeiro do Sul (Crux), presente na bandeira do Brasil, que é a representação do poder feminino.
“Uso a cruz e a estrela como símbolos. “Acrux” veio como um tema complexo: foneticamente remete a crucificação e no meu caso eu juntei o pesado julgamento moral sobre as mulheres no patriarcado e o peso da cruz no ombro dessa culpa que nos jogam”, diz Lurdez. “É como se a crux fosse essa estrela guia que vem da força interior contra as mazelas que se abate sobre nós e transforma positivamente o exterior.”
Na sua performance, Lurdez da Luz aborda o sofrimento, o peso do julgamento, a dor. Por ser mulher, ela é crucificada pelo sistema. Ao ressurgir, a MC mostra que é forte e pode superar todas as adversidades. Ela reconhece que pode ser mal interpretada por usar símbolos cristãos para transmitir sua mensagem, mas não retrocede porque tem argumento. “Falo a partir do ponto de vista de uma mina que nasceu e viveu nessa cidade, e não compactua com o retrocesso que se manifesta nas opiniões de um setor e os atos dessa política pública atual que co-existe com o avanço de consciência coletiva, que é onde eu estou botando a fé.”
Lurdez da Luz tem 15 anos de carreira. É a primeira vez que ela une som e e projeções de imagem no seu show. “Eu tenho vontade de fazer isso desde o meu primeiro disco e acho que chegou a hora. O som aliado a imagem de uma forma pensada para contar uma história, pode ser muito potente”, afirma. A ideia inicial de “Acrux” era reunir todas suas músicas que tivessem mais a ver com São Paulo, mas a artista não poderia deixar de fora àquelas que ela, a banda e o público gostam de ouvir e cantar.
“No fim das contas foi tipo “the best of”… Tem alguns pontos: queria menos camadas de instrumentos, tipo tirar canais das músicas e deixar só o que fosse essencial para dar ênfase nas letras, os músicos queriam tocar mais livremente, pois até agora estávamos sempre tocando em cima de bases já mapeadas onde existia pouco espaço para o improviso. Queríamos também um clima mais orgânico para dançar e entrar num transe tranquilo, tipo mantra, mais do que pular, e o pique ‘sobe, desce e não para não’ que tinha no disco Gana Pelo Bang. Incluimos mais silêncio, justamente para dar mais força as palavras.”
Para a apresentação, que estreia no dia 18 de agosto, às 21hs, no Sesc Belenzinho, Lurdes da Luz vai ter o suporte instrumental do PParalelo [que a acompanham no EP “Bem Vinda”], e o baixista Fabio Santana. Entre os convidados, estão as cantoras Xenia França (Aláfia) e Marietta Vital.
Da Luz deixa claro que “Acrux” não é uma homenagem a São Paulo. É um olhar, uma narrativa feminina dos sons, paisagens e cheiros que exalam da capital paulista.
“Não tem algo específico em São Paulo que me inspire, claro que minha vivência no centro, onde morei, na Luz, na Bela Vista, na Baixada do Glicério e tal, entram nas rimas. Mas é mais como eu digo na letra de “Acrux”: desse lugar, sou local!”