“Eu não tô ansioso porque me parece que eu tô me preparando pra esse tipo de show há muito tempo. Não é algo que me assusta, tá ligado? O que me assustava era a demora pra chegar nesse momento”, diz Zudizilla sobre a sua primeira participação no Lollapalooza Brasil neste sábado, 29 de março. “Demorou muito pra eu chegar num palco desse tamanho. Isso sim estava me deixando ansioso”.
Toda essa tranquilidade é demonstrada por Zud na sala de espera do Artsy Studios, na Vila Madalena, em São Paulo. Ali, ele fez a última passagem de som com sua banda (Pé Beat, bateria; Gabriel Gaiardo, piano; Julio Lino, baixo; Amanda Cunha, guitarra; DJ Nyack; Lucas Gomes, trompete; Jorginho Neto, trombone) antes de subir a um dos grandes palcos que mais desejou estar ao longo da sua caminhada artística.
A notícia de que tocaria lá foi recebida em setembro de 2024, quando estava em Fortaleza. “Eu tenho até isso gravado. Me chamaram pra uma reunião urgente”, lembra. “Antes de começar, perguntaram qual festival eu tinha vontade de tocar”. Dos vários que respondeu, o primeiro foi o Lolla. “Aí, me disseram: pode parar por aqui Você vai tocar no Lollapalooza. Respondi: Carai mano, sério? Foi aquele furor”.
Dessa vez, a performance será diferente dos shows convencionais porque os beats serão substituídos por elementos orgânicos e o trio de jazz será complementado por outros músicos. “Vou ter guitarra e sopros que fazem essa mesma camada tonal do beat. Então, tá muito orgânico e muito parecido com os beats também”. De fato, no ensaio foi possível observar essa organicidade, que deixa os sons ainda mais ricos, com vivacidade. Essa roupagem eleva ainda mais a qualidade das músicas do rapper. O estúdio parece ser o playground e, ao mesmo tempo, o santuário de Zud. Ele ri, fecha os olhos, senta, levanta, vira o boné para trás, gesticula, se diverte.
“Eu não sou um cara muito ansioso, tá ligado?”, afirma. “A minha ansiedade vem da espera. Se eu tenho que esperar alguma coisa, eu acabo ficando ansioso, nervoso. Mas não ansioso porque algo vai acontecer, ou vai ser maior, ou vai ser melhor. Na minha cabeça, eu tenho certeza que esse é um lugar que eu tenho que ocupar. É nesse tipo de palco que eu tenho que tocar e com essa banda que eu tenho que tocar. Foi para isso que eu corri o tempo inteiro”.
A escolha do repertório foi guiada pela intuição, por coisas que já funcionam em outras ocasiões. “São coisas que a gente já gosta de tocar, das coisas que a gente já curte fazer, mesclado com o que eu entendia que daria certo e que seria mais potente com a banda”, ressalta. “Claro que perpassa muito pela coerência cronológica da minha carreira, mas tem muito mais a ver com aproveitar ao máximo a oportunidade que eu tenho”. Essa é também a chance que ele tem para explorar tudo o que um festival dessa envergadura proporciona: um palco grande, som de qualidade e um bom técnico. “Artisticamente falando, nem sempre isso é possível, né? Às vezes é guerrilha mesmo, Inferno! Por isso, foi mais fácil escolher essas músicas”.
Diferente dos anos anteriores, em 2025 o rap nacional tem uma quantidade reduzida de representantes no line em seus 3 dias. Ao lado de Zudizilla também estão Kamau e Drik Barbosa, que literalmente farão uma trinca nos horários iniciais do segundo dia (sábado) desta edição. O mais interessante é que Zud e Kamau são MC’s que circulam pelo rap alternativo – também chamado de underground -, algo que para ele é recompensador.
“O Kamau demorou pra chegar nessa posição. Aquele é o lugar que ele já deveria ter ocupado antes”, observa. “Num show que ele fez lá no Bourbon (Street), eu falei: mano, precisa continuar fazendo show. Precisa botar essa porra pra rua, tá ligado?” E ele falou: ‘ah, mano, é fácil pra você falar, porque já tem um show foda’é. Sim, o show foda, porque faço show pra caralho… mas pra mim é gratificante ver ele alcançando esses lugares também. A gente precisa transcender o próprio rap. A gente pode entender esse momento como uma ode ao rap underground, mas eu não acho que a Drik se encaixe mais no underground. Eu não acho que o Kamau se encaixe mais no underground. Ele se esforça muito pra ficar no topo da subcultura. Mas ele é tão grande, tão bom, tão potente que já poderia estar disputando espaços em outros lugares. Mas essa não é a tônica dele enquanto artista”.
Preparado para voos ainda mais altos, Zudizilla diz que a performance que fará pode colocar muito gringo no bolso (pelo que vi no Artsy, tenho que concorda que a possibilidade é gigantesca). Também vislumbra estar presente em mais espaços que permitam esse tipo de estrutura. “Eu posso ir com um formato DJ e MC que vou quebrar tudo com certeza. Eu posso ir pra um festival com jazz trio, e eu vou quebrar o rolê com jazz trio também. Mas essa não é a minha potência máxima”. Como um bom competidor, ele entra no campo com estratégia e um time para conquistar o que deseja. A tática é a mesma, independente do campo que esteja jogando – grande ou pequeno.
“Tenho certeza que depois disso a gente vai conseguir mais alguns espaços grandes para tocar. Não vou abandonar o jazz trio, ainda vou circular muito em boteco, porque eu sou muito botequeiro, eu gosto muito de boteco, gosto muito de espacinho de jazz com luz baixa e escura com geral sentado. Mas eu acho que vai ter uma viradinha de chave para nós, enquanto qualidade do que a gente apresenta”.