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Foto: Noélia Nájera

Max B.O.: “Estrada Aberta” é o disco onde eu mais expresso minha religiosidade”

Uma conversa sobre arte, religiosidade e Sabotage.

Mestre do freestyle. É assim que Max B.O. é conhecido por sua habilidade na arte de rimar no improviso. Mas além de MC, ele é também apresentador, repórter e artista plástico. Esse último ofício, Max desenvolveu durante a pandemia de Covid-19, período em que a música ficou em segundo plano, usando cola, papel e tesoura. Com o passar do tempo, expandiu suas técnicas para assemblage – pintura com a fusão de outros componentes – e em 2022, fez sua primeira exposição individual, intitulada “Oju Adé – o Olho da Coroa” com 54 obras, ficando em cartaz no Tendal da Lapa e nas Oficinas Culturais Oswald de Andrade.

Antes de mergulhar nessa outra forma de arte, o rapper lançou “O.M.M.M.” (2019) – O Mundo é um Moinho -, o primeiro trabalho depois dele ter ficado 6 temporadas apresentando o programa Manos & minas, na TV Cultura. Agora, em 2024, Max B.O. “retorna à música” com o álbum “Estrada Aberta”.

Diferente do anterior, este busca uma forma mais tradicional de fazer rap.
“Eu fui buscar também dentro do formato artístico, essa coisa mais fechada (talvez essa não seja a palavra) dentro da estrutura do rap, porque o meu disco anterior eu acabei fazendo de um formato mais abrangente, produzindo com o (produtor) e aí eu convidei vários beatmakers para trazerem beats abertos e alguns amigos para tocarem instrumentos dentro desse disco”, observa.

De fato, pode-se considerar que o disco possui características do que se convencionou chamar de boom bap, porém, não é possível caraterizá-lo dessa forma. Ao lado de Noturno 84, Max fez um projeto abrangente, que traz elementos do “rap clássico” e do que tem sido feito atualmente. Isso pode ser observado nos instrumentais, com diversas colagens do DJ Nato PK, e nas participações de artistas com uma caminhada, como Kamau, e outros que estão em plena ascensão, nesse caso Ajuliacosta, Ravi Lobo e Magrão. Liricamente, a caneta ainda permanece ajustada, tendo em vista que todas as composições foram escritas antes de serem registradas. O freestyle, Max está guardando para os shows.

Na conversa de quase uma hora que tivemos por Zoom, ele – diretamente de Salvador, Bahia – explica o conceito de “Estrada Aberta”, ressaltando que nele é ondemais expressa sua religiosidade, a parceria com Noturno, arte, teatro e Sabotage. “Se eu tive o Sabotage perto de mim em vida e tenho depois que ele partiu, eu não preciso fazer parte de esquema de gravadora, de selo, de melhores amigos pra estar num lugar cheio de pessoas falando do Sabotage que sequer conheceram o Sabotage”.

 

 

Esse é um disco de rap, rap mesmo?

É um disco de rap, rap e rap. Tem muito rap. E eu queria que ele tivesse muito de quando eu comecei a fazer. Queria mostrar quem é, o que faz, como vive e se alimenta Max B.O… e fui buscar também dentro do formato artístico, essa coisa mais fechada (talvez essa não seja a palavra) dentro da estrutura do rap, porque o meu disco anterior eu acabei fazendo de um formato mais abrangente, produzindo com o Iky Castilho e aí eu convidei vários beatmakers para trazerem beats abertos e alguns amigos para tocarem instrumentos dentro desse disco. Depois, para executar o show, eu acabei montando uma banda. Então, era eu e mais 7 caras fazendo as apresentações do O.M.M.M: eu, DJ,, baixo, guitarra, bateria, trompete e trombone. Neste, acabei fazendo só eu e o Noturno, uma coisa feita a quatro mãos, meio como foi Thaíde e DJ Hum, Jazzy Jeff e The Fresh Prince, Eric B. & Rakim…a execução do show também vai ter essa característica, porque sou eu, o Nato PK e o Pancho Trackman. É uma coisa mais concisa, mas dentro da estrutura que é o hip hop que a gente desenvolve: voz e batida.

Como foi produzir a quatro mãos? Vocês se juntaram para desenrolar as ideias, um foi mandando para outro ou surgiu naturalmente?

Graças a Deus e aos orixás, a gente conseguiu se encontrar bastante pra fazer esse disco acontecer. Atualmente, eu tô morando em Salvador (há quase 2 anos) e em agosto do ano passado eu comecei a ir para São Paulo para as escutas do samba enredo do Vai Vai… eu sou componente do Vai Vai e membro da ala de compositores (inclusive eu sou único cara do hip hop dentro da ala de compositores), e como o enredo era sobre hip hop, eu participei de uma parceria para disputar o samba enredo, e eu já estava apostando muito de ter que ir todo mês pra São Paulo. Alguns meses que não fazia parte dessa aposta, eu tinha outros trabalhos para fazer (shows, workshops, oficinas)… então, acabei indo de agosto de 2023 até abril de 2024. Como meu samba acabou não avançando nas eliminatórias, eu aproveitei esse período para me juntar com o Noturno e desenvolver o disco. Alguma coisa eu fiz daqui (Bahia), a lição de casa, mas eu não gravei nenhuma voz aqui pra mandar pra lá (SP). Gravei tudo lá com ele. A gente também gravou a voz do Magrão e do Ravi Lobo lá no estúdio, a AJuliaCosta gravou em outro estúdio, mas muita coisa a gente criou e desenvolveu lá.

E a escolha das participações… elas estão bem conectadas e tem um entrosamento nas ideias também. O Ravi Lobo, que também é da Bahia, traz um rap bem raiz, cru… todos os feats casaram, mas de que forma você fez essa seleção?

O Kamau, eu já tinha vontade de fazer uma colaboração, e a gente é parceiro de muito tempo… já tivemos um grupo junto que era a Academia Brasileira de Rimas. Então, eu senti que essa música, “Estrada Aberta”, poderia ter uma dinâmica maior do que eu queria dizer. Eu escrevi especificamente pra esse disco, e é uma coisa que eu tento fazer em outros trabalhos… por exemplo, quando a gente pensa no samba, logo vem na cabeça João Bosco e Aldir Blanc, sabe!? Coisas que fazem diversas interpretações e às vezes nenhuma delas é aquilo que eu quis dizer, saca!? Então, quando eu pensei no Kamau, pensei pra essa música que carrega o nome do disco e achei muito interessante porque ele trouxe aquele best trick silábico. E é legal até usar o termo best trick silábico porque o Kamau é um cara oriundo do skate também e ele soube lidar com esse jogo de palavras de uma maneira legal, que acrescentou um plus de palavras. Nesse período, que eu estava indo pra São Paulo, gravei com outros artistas daqui da Bahia. Gravei com o João Menin, com o Da Ganja e gravei com o Galf. E aí, o Galf e o da Ganja, junto com o Vandal e o Ravi Lobo formam o time do Ugangue… e aí o Ravi tava indo pra São Paulo porque ia gravar o videoclipe com o Ênio. Nessa, ele foi para o estúdio gravar uma parada com o Galo de Luta. Aí, mostramos “Bagaça essa Disgraça” porque a gente já queria fazer uma parada juntos… o Noturno mostrou o beat, ele achou foda e veio junto. O Magrão já é uma conexão diferente porque é um cara mais jovem, mas a gente já estava se conectando, já fui jurado de algumas batalhas que ele participou, eu gosto do jeito que ele desenvolve o freestyle. Demorei um tempo pra voltar a batalhar e acabei indo pra uma batalha de duplas lá na Matriz junto com o Magrão e chegamos na final. Não vencemos, mas chegamos. E eu estava 18 anos sem batalhar, minha batalha mais recente tinha sido em 2005 e eu volto a batalhar com o Magrão do meu lado. “40 segundos” é uma música que fala sobre isso, o tempo que o MC tem pra ganhar uma batalha e isso também é muito associado à luta.

Já Ajuliacosta foi uma característica que eu queria dar pra tirar, primeiro essa coisa de ter só homem no disco, e trazer diversidade, mas precisava ser alguém que eu admirasse e curtisse. Eu não conhecia tanto o trabalho dela até eu apresentar um festival que rolou na Fábrica de Cultura de Osasco em 2023, foi quando eu vi o show dela ao vivo. Como eu já falei em outros lugares, a Julia me traz muito aquela parada do hip hop do fim dos anos 90 começo dos 2000, de ter uma atitude que não só tem uma estética visual, é uma atitude nas ideias que estão sendo mandada. Ela tem essa coisa da Foxy Brown, da Lil Kim… então, eu senti que ela ia casar bem nessa música.No final de tudo, pedi ao meu fiel escudeiro, meu maestro Dj Nato amarrar essas faixas com mais oralidade porque queria sair um pouco do boom bap tradicional, de voz refrão, voz refrão. Queria envolver poesia em algumas faixas, em outras queria que o refrão fosse colagem.

É louco também essa conexão, vamos dizer assim, entre a velha escola e a nova escola. Me surpreendi com a sua parceria com Ajuliacosta, não esperava, mas casou nas ideias, na virada. É uma artista que não está no boom bap, não que o disco se encaixe dentro do boom bap, tem várias camadas… mas ela traz um frescor. Você também é o mestre do freestyle… para esse álbum você escreveu as letras ou foi tudo no improviso?

Quando é um disco, eu sempre estou escrevendo. Às vezes eu me pego pensando: “vou parar agora pra escrever uma música”. Outra hora estou sentado assistindo televisão e a ideia vem, e aí paro pra escrever a música. Então, quando penso num disco, eu dificilmente improviso sobre aquela parada. Eu deixo o lance do freestyle mesmo para uma apresentação no show, quando pego o RG da galera e improviso, às vezes quando participo do show de alguém, mas eu gosto de escrever e lapidar o que vou deixar registrado no que eu chamo de disco.

“VEJO QUE A ARTE É UMA ESCOLA ONDE A GENTE PODE SAIR DE UMA SALA E ENTRAR EM OUTRA”.

Foto: Noélia Nájera

 

Cada coisa está no seu lugar…

Eu acho que é isso, Adailton, vou dividindo por ingredientes dentro do potes… tipo tem o pote do manjericão, do orégano, do freestyle e da rima decorada, da rima escrita.

E por que o título é “Estrada Aberta”?

Porque é o primeiro disco que eu fiz depois que me mudei pra Salvador. É um disco dedicado à Ogum, que é o Orixá dono da minha cabeça. Eu sou filho de santo de um terreiro de candomblé aqui de Camaçari, na região metropolitana de Salvador, do pai Edgar Costa de Carvalho. Eu sou filho de Ogum dentro de uma casa de Exu, e estrada aberta é porque Ogum é o orixá dos caminhos, das batalhas, das conquistas, é também o Orixá ferreiro, da forja, dos trilhos de trem… então, por exemplo, uma estrada aberta seria um trilho de trem. “Estrada Aberta” é o disco onde eu mais expresso minha religiosidade, inclusive tem uma música que chama “Cavalo de Ferro”, que foi o nome de uma das primeiras locomotivas a ser construída na Inglaterra, se não me engano… só não vou lembrar o século. As estradas de ferro são estradas abertas, porque não pode ter nada impedindo o trilho pra circulação do trem. Por isso, acho que nesse disco foi onde eu mais expressei esse meu lado pessoal e particular que é minha religiosidade São os caminhos que eu trilhei… Tem um documentário chamado “Mensageiro entre dois mundos”, que me inspirei pra também me colocar como um mensageiro entre dois mundos: o meu mundo interior e o mundo exterior. Essa estrada aberta é uma estrada que conecta isso, o que eu trago dentro do meu peito, no meu coração, transformo em música e levo para os meus ouvintes.

Ir pra Bahia te influenciou a produzir o disco?

Olha, eu acho que influenciou no entendimento do que eu queria fazer. A maioria das coisas eu gravei em São Paulo, muitas coisas eu escrevi com vivências de São Paulo. Em “Cavalo de Ferro” mesmo quando eu falo “são 18 graus apenas”, estava falando do frio em São Paulo… e não mudei pra Salvador pra repousar e fazer o disco, como alguns artistas fazem, se isolando no interior ou no litoral… eu acabei vindo pra cá e mesmo estando fora dessa agitação, dessa loucura de SP, tinha muitas coisas pra fazer aqui, me organizar e me estabelecer. Muitas vezes quando se fala de Salvador, muita gente fala:”que bom, que lindo, agora você tá numa boa”. Mas eu não sou aquela pessoa que vai todo dia pra praia… tenho o privilégio que é o de morar no Centro histórico de Salvador. Então, de certa forma eu moro num dos bairros mais tranquilos e mais visitados e boêmios, que é o Santo Antônio Além do Carmo. Por isso, não vivo aquela realidade de ter que acordar todo dia, pegar um ônibus, ir pra um determinado lugar e no fim do dia ter que voltar pra cá. Mas isso não me fez esquecer que Salvador está entre as capitais e as cidades mais violentas do Brasil. Embora eu não esteja na loucura de São Paulo, existe uma loucura aqui que não pode ser deixada de lado.

Qual foi o start que você teve para fazer um álbum novo depois de pouco mais de quatro anos do seu último?

Acho que foi algo ligado a entender o tempo das coisas e ir fazendo o que era possível. Por exemplo, eu fiz o O.M.M.M, que eu fiz em agosto de 2019… foi o primeiro trabalho que eu fiz depois de sair do (programa) Manos e Minas. E lá, eu tinha ficado 6 temporadas, tendo dificuldade de mostrar o meu trabalho porque tinha um ritmo lá que toda semana eu tinha que mostrar o trabalho de outros artistas. A gente gravava toda segunda-feira, reunião de pauta era uma quarta-feira sim e uma não, e leitura de roteiro toda sexta-feira para o programa da próxima segunda. Então, quando eu saí, precisei enfrentar os meus fantasmas, porque eu estava mudando novamente de lugar, deixando de ter um trabalho fixo, embora ele envolvesse o rap, para novamente viver da minha arte de uma maneira autônoma, aí teve um tempo para colocar a cabeça e o juízo no lugar e foi quando eu comecei pensar nesse disco com essa dinâmica onde eu queria ter muita gente envolvida no processo. Aí, eu lancei O Mundo é Um Moinho, e poucos meses depois veio a pandemia.

Nesse período eu não entrei numas de encarar fazer música e nem fazer show, primeiro pelo risco em si da própria pandemia e nem por ter o background que muitos artistas tinham pra colocar suas vidas em risco e fazer a parada. Eu optei por ficar recluso e sempre transitei dentro de outras possibilidades de arte. Então, depois do O.M.M.M., eu me descobri artista plástico. Eu fiz alguns trabalhos de colagem, analógica mesmo com cola, papel e tesoura, de 2015 pra 2016, mas isso era só um passatempo. O tempo passou, eu deixei de fazer e na pandemia todo mundo tinha aquele lance de fazer uma coisa por dia, né!? E eu entrei numas de fazer uma colagem por dia e quando vi estava fazendo 8-9-10 colagens. Essas colagens foi o que me ajudou, de certa forma, a manter parte do orçamento. Quando surgiu a vacina e a flexibilização, eu não tinha nenhuma música pronta, mas já tinha um acervo com mais de 50 obras. Aí,í eu fiz a minha primeira exposição individual lá no Tendal da Lapa chamada de “Oju Adé, que no Iorubá significa olho da coroa (e esse é o meu nome de batismo no candomblé). Então, eu comecei a ser mais inserido na área das artes plásticas do que da música. Não estava pensando em nada de disco porque estava conectado nessas belezinhas (mostra as obras). Eu tô sempre voltando pra buscar alguma coisa pra me impulsionar mais pra frente. É como o lance da flecha de Oxossi: pra mandar a flecha pra frente, você precisa puxar ela pra trás e soltar a corda. Foi um pouco isso, eu estava desenvolvendo outras artes. Eu consigo usar a arte e o hip hop como ferramenta de comunicação, tipo ser um cantor e ao mesmo tempo ser um apresentador de TV, ser um repórter, posso também fazer uma campanha de publicidade, mas também vejo que a arte é uma escola onde a gente pode sair de uma sala e entrar em outra. Antes de fazer rap, eu fiz teatro e esse ano vou fazer teatro novamente. Tem um monólogo que vai estrear neste segundo semestre, onde eu sou o ator do monólogo.

 

Foto: Noélia Nájera

 

Nesses dois mundos da arte e do rap, qual é mais fácil transitar?

Eu acho que, talvez pelo tempo que estou nesse lugar, o rap seja mais fácil. É mais fácil saberem quem é o Max B.O. dentro do rap. Nas artes plásticas é uma coisa um pouco mais recente, mais nova. Então, eu peço licença pra chegar. Já no rap, eu sei onde estão os campos minados.

Você publicou no X (ex-Twitter) que uma galera “grande” do rap ouviu seu disco, mas preferiu não comentar. Falta meio que uma união no hip hop brasileiro? Vejo que fora, obviamente nem todos, mas tem um fortalecimento quando um MC lança algo e um amigo também compartilha.

Existe uma expressão que surgiu na Rússia, que é revisionismo. Sinto que a cultura hip hop vive um momento de revisionismo. Isso quer dizer o quê? Quando uma pessoa se acha detentora de uma história original. Então, eu posso falar que o freestyle começou a partir do momento que eu comecei a rimar e esquecer que antes de mim já tinha o JL lá em Diadema… ou eu dizer que a Academia Brasileira de Rimas foi o primeiro grupo de freestyle do Brasil e não dizer que a gente enfrentava a galera de Diadema: o JL, o Jaybox, o Slim… algumas pessoas estão revestidas desse movimento revisionista, por assim dizer. Eu tenho certeza que muita gente já ouviu o meu disco, mas não falou por viver esse momento de revisionismo. E isso é uma coisa completamente entristecedora para o próprio hip hop, porque quando começou o lance da cultura, os mandamentos eram de paz, amor e união. Você reconhecia que tinha outra pessoa fazendo um trabalho bem feito, de estar chutando pedra pra conseguir o seu espaço. Eu não estou falando isso só sobre mim, só sobre o meu disco, eu vejo acontecer com outras pessoas. E isso caminha muito nessa efervescência que é essa coisa do hype. Tipo, eu tenho aqui em casa todos os LPs do Djonga, eu me amarro no Djonga, mas eu só fui escutar “O Menino que Queria ser Deus” e o “Heresia” só semana passada, porque não sinto que preciso depois que saiu escutar e dar a minha impressão sobre aquilo, até porque tem muita gente falando e tem tanta gente falando, felizmente ou infelizmente, que daqui 6 meses vai ter uma impressão diferente do que aquilo que falou no calor do momento pela necessidade ser uma pessoa interada no assunto e falando daquela parada. E você começa a se ligar que é um caminho que a música está tomando e atingindo a cultura hip hop, porque felizmente no funk não é assim, no samba não é assim, na música sertaneja que a gente tanto critica não é assim… o modelo de formato, de mercado, de comércio não é assim. O cara do sertanejo cria uma produtora, não é pra ela manter 4 ou 5 que ele tem medo que possam o derrubar. Ele cria aquela parada pra disseminar mais coisas. No rap, a gente faz 16 linhas, refrão, 16 linhas, refrão e o autor sou só eu. E aí, você pega uma música que é muito mais simples, com um refrão muito mais marcante, escrita por 8-9-10 pessoas. Mas aquilo foi projetado pra ter um esquema de retorno de visualização, de audiência e aumentar a questão monetária pra todas aquelas pessoas. Então, você vê que a pessoa quer fazer um bolo maior e dividir em mais gente. É uma coisa que a cultura hip hop não se preparou e não está preparada pra isso.

É uma visão muito mais ampla do que a gente imagina. No rap, alguns estão atingindo o mainstream, porém é uma vitória individual. O rap não é um mercado como o sertanejo. Por isso, é necessário uma união para que não seja sempre cada um por si..

Exatamente! Outra coisa que você falou e me dá um gancho muito louco… é entender como essa operação é no mainstream e na televisão, por exemplo. E a gente sabe quando tem um festival no Brasil quem são os artistas que estarão participando. A gente não tem um festival de surpresas. É a mesma coisa que a gente vê as novelas da TV aberta, tipo, o formato do casal preto da novela é sempre aquele casal, não existem dois casais. O cara que é o gente boa da quebrada, é sempre aquele um ou aqueles dois. O cara que é da quebrada, mas é um pouco mais questionador, é um também não vai ter dois. Não vai ter tão cedo um cara preto que comanda o programa na TV de sábado ou domingo. Se tiver, vai ser produzido por um diretor de TV que não tem consciência do que ele tem pra mostrar porque ele não vive da nossa realidade, ele vive da audiência da TV, ele não pode perder pontos. E isso tem se estendido para o rap, para o hip hop, para o hype, o mainstream… esses dias eu participei do Festival Sabotage Vive, que foi feito por um camarada chamado Caneda (do Asfixia Social), que também conviveu com o Sabotage, sabe da minha história com o Sabotage e me convidou pra participar do festival. Mas agora, por exemplo, quantas vezes fizeram eventos para o Sabotage em São Paulo e eu nem sequer fui convidado. Os discos que saem e não sou convidado. Eu não vou sair reclamando e batendo boca por isso, inclusive porque a energia do próprio Sabotage é muito maior. Tipo, eu sou co-autor da música da cocaína, numa época que não existia no rap co-autoria. Ele estava lá no Movimento de Rua, no programa do Natanael, cantou Rap é Compromisso, o Natanael pediu pra ele cantar mais uma, mas ele só tinha a primeira parte de Cocaína e eu fui lá e fiz um freestyle. Ele falou: “vou adaptar”. Isso aí, virou a segunda parte da rima dele no disco. E quando saiu o primeiro disco póstumo dele, depois que ele se desligou desse plano e ascendeu ao orum, é ele que fala lá: “mas pode ter freestyle de malandro é com o Max. Então, quer dizer, se eu tenho o Sabotage perto de mim em vida e depois que ele partiu, eu não preciso fazer parte de esquema de gravadora, de selo, de melhores amigos pra eu estar num lugar cheio de pessoas falando do Sabotage que sequer conheceram o Sabotage, embora se me perguntassem se eu gostaria de estar, talvez eu gostasse. Mas também receber um determinado convite que eu vá recusar, eu agradeço também por não ter sido convidado. Mas vai de você observar, e isso é uma coisa que o tempo e o candomblé ensina pra gente, e que coincidências não existem.

Se você tivesse sido convidado pra participar do disco póstumo do Sabotage 50 anos, participaria?

Depende da faixa. Mas qual faixa eu não vou responder (risadas)

 

 

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