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Foto: Divulgação

Na linha do tempo do Khronic

A auto-transformação é um dos temas abordados pelo rapper moçambicano no primeiro de 2 volumes de Linha do Tempo.

“O Khronick é um rapper moçambicano, autor de três discos (até o momento), sendo o primeiro deles ‘’Tentativa, Queda & Superação’, lançado em 2013, o segundo chama-se ‘Retratos’, lançado em 2018, e o mais atual é “Linha do Tempo Vol. 1″, que saiu em 12 de maio de 2023. Portanto, ainda teremos o volume 2”.

Essa definição é do próprio Khronick. Via Zoom, o MC diz que o título do seu terceiro álbum faz analogia ao processo da vida em si. Porém, ressalta que em algum momento essas reflexões se encontram com a sua história e as observações e pesquisas que faz. Mesmo assim, o contexto passa bem longe da subjetividade que alguém possa concluir ao ouvir os 43 minutos e 07 segundos de rap produzidos por ele, Polegar Beatz, Hermetiko, Menfis_Segundo Piso e Edy Mc.

“Tem uma objetividade porque no conteúdo nós encontramos elementos que estão lá para nos fazer evoluir como seres humanos e como seres espirituais”, observa. “Então, os processos que são descritos lá, são processos que boa parte dos seres humanos vivenciam”.

Esse conceito foi estruturado ao longo de quase 5 anos, o mesmo espaço de tempo que desenvolveu seus trabalhos anteriores. Um dos motivos para sempre “demorar” mais do que a velocidade exigida pela indústria musical, é a sua paixão pela escrita. “Para mim, a escrita é terapia, meditação”, afirma. Por isso, logo depois que conclui um álbum, espera para ver se as ideias que sobraram podem ainda ser aproveitadas ou descartadas.

 

OFF
“A presença do boom bap é fundamental porque essa faixa etária que ouve o trap daqui a 5 – 10 anos estarão numa idade um pouco mais avançada, terão uma outra compreensão diferente da vida e provavelmente o trap talvez já não seja necessariamente o estilo que vão buscar pra ouvir”. 

 

É dessa forma que deixa seus projetos maturar. Assim, o disco leva o tempo que for necessário, podendo este ser maior ou menor do que o previsto. “O volume 1, em particular, eu fiz até a oitava música e depois parei por uns 4 meses”, revela. “Na sequência, voltei, conclui ele todo e já comecei a escrever o volume 2. Então, esse processo todo durou em média 1 ano, 1 ano e meio”.

Tudo isso é possível porque Khronic mantém uma rotina de composição diária, separando um momento para sentar, com ou sem inspiração, fazer uma introspecção e ver se dali sai alguma coisa. Quando a inspiração surge, ele pega o celular e começa a gravar o que me vem à mente, depois ouve e transcreve. Se a ideia for boa, separa o final de semana para gravá-la no estúdio que mantém em casa.

 

Foto: Divulgação

 

Em relação às 13 músicas que compõem o “Linha do Tempo: vol 1”, o MC afirma que uma foi chamando a outra. Na visão dele, o álbum precisa funcionar como um livro em que os capítulos devem ter algum tipo de conexão.

“Se eu falo, por exemplo, do som que abre o álbum (Mais Eu), eu trago uma espécie de auto-afirmação, quando eu aceito a pessoa que sou com todas as limitações, com todas as minhas capacidades… e eu afirmo: mais eu! E a segunda já vem Vivo Hoje. Portanto, nessa eu incentivo as pessoas a olharem pra vida como uma grande oportunidade de evoluírem, de se relacionarem, de crescerem, de se tornarem melhores. Então, para tal, é necessário que tenha o mais eu e nos torne quem aceita a sua condição, quer seja material, espiritual, familiar, social. Assim, elas vão fazendo isso automaticamente”.

Todas essas ideias que saíram da mente do Khronic foram complementadas por alguns de seus ídolos: Masta Ace, Outlaws, M.O.P. A escolha se deu mais por admirá-los, sendo que boa parte desses artistas tem alguma influência na sua família, do que por uma estratégia mercadológica.“São artistas que tenho alguma admiração e fizeram parte da minha história de vida ao longo dos anos”, ressalta.

 

 

Ao firmar essas parcerias, o moçambicano de Nampula, que além de rapper é licenciado em História Política e Gestão Pública, não trata a língua portuguesa como uma barreira, porque sentir as diversas nuances do som fala muito mais alto que palavras. “Eu tinha 11 anos e não entendia inglês, mas tinha a possibilidade de entender os sentimentos que eram transmitidos pela música”, diz. Alguns sons mais agressivos despertavam algo em mim, se era um som mais introspectivo, de baixa energia, o sentimento já era outro”.

Os dois volumes de Linha do Tempo tem como mensagem principal a auto-transformação, porque Khronic acredita que existe uma necessidade de evolução que transcende a visão periférica, que é material. Também pretende despertar o interesse sobre um componente um pouco mais sútil da nossa existência.

“Eu sou daquelas pessoas que acreditam que existe algo a mais que é imensurável, que não se pode tocar, mas que eventualmente com algum nível de concentração e percepção, podemos obter através de várias fontes como a intuição”, reflete. “E por último, a sugestão é que a gente se volte um pouco mais pra dentro e não pra fora. Hoje chegamos a uma certa altura da nossa vida em que buscamos algumas respostas e a tendencia que nós temos é de buscar essas respostas lá fora. Mas o mundo aqui fora só nos coloca na pressão, na agitação, numa busca desenfreada por prazeres de curta duração, bem estar físico e segurança. Por isso, a ideia é: volte-se um pouco mais pra dentro porque a resposta pode estar lá”.

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