“Desde sempre, várias neurose na minha mente / Então eu acendo meu baseado e deixo os problema pra lá / Sabedoria, melhor arma, mente blindada, mantendo a calma / E se a guerra é fria, nós vence na tática”.
O verso de “Iluminado” prova que a vida cara do Orochi também possui suas turbulências. Observado por mais de 6 milhões de seguidores no Instagram, ele parece não ter um dia de paz. O caos mais recente, após a publicação de vídeos com uma pessoa armada na casa onde fazia uma festa em Búzios, RJ, foi sua detenção temporária por porte ilegal de armas.
Essa não foi a primeira vez que o rapper e um dos sócios da Mainstreet teve complicações com as autoridades. Em 2019 foi detido por porte de drogas e desacato, problema que também se repetiu em 2021. O episódio mais recente serviu também como publicidade gratuita para a promoção do que parece ser o último álbum dele, “Vida Cara” (VDCR).
Logo de início, a quantidade de músicas, 26, surpreende. Para a realidade atual da indústria, o número foge completamente dos padrões. Porém, o objetivo não é seguir regras – apesar de saber muito bem como funciona o sistema. Rapidamente sua base de fãs correspondeu e VDCR atingiu mais de 4 milhões de streamings em poucas horas no Spotify. Porém, isso também não garante que esse seja o melhor que Orochi tenha feito, pelo contrário, está um pouco longe disso.
Mesmo tendo participações de peso, incluindo Trippie Redd, Russ, Filipe Ret, Djonga, Xamã, L7nnon e Ryan SP, o disco não empolga. É um amontoado de singles, que podem ter sido resgatados da gaveta para não perder a possibilidade de ganharem vida em algum momento ou escritos com uma certa emergência. O volume afeta diretamente a qualidade, porque antes da metade fica cansativo. Há quem vá até o final para saber se algo muda e tem aqueles que desistem pelo caminho.
Existe densidade dos instrumentais de trap e drill, que o deixa sombrio e ao mesmo tempo sensual. Não tem como negar que a qualidade sonora está acima da média, mas a repetição de assuntos satura. E não que Orochi não tenha vivência para compartilhar de formas variadas. Baseados no protesto à constante perseguição ao povo preto e periférico, prosperidade, curtição e celebração das conquistas, os temas são conduzidos pela objetificação da mulher, dinheiro, drogas, armamentos e ouro.
“Várias piranhas jogadas na minha cama / Quero o meu bolso e minha mesa farta / Que pra minha tropa nunca falte nada / Damo pra bitch o que ela quer, vida cara /Tudo de novo / Elas quer sentar no meu pau / Me chama de gostoso”. – verso de Vida Cara
Falar de tudo isso não é o maior problema – tendo em vista que nos anteriores a linha discursiva é bem parecida – e sim a forma que desenrola as ideias. Segue um mesmo fluxo lírico, mudando somente a ordem das palavras. Diferente da época das batalhas, a caneta do Orochi está com a tinta fraca.
Essa cartada final reflete esse momento. Provavelmente, ele agora vai focar nos negócios da Mainstreet, um dos seus grandes trunfos dentro da música – até mais que os milhões de plays. “Entre jogos e apostas, eu vivo como Shelby / Só entrei nesse jogo pra virar o chefe / Nós é de verdade, sem máscara de foda / Minha mente é a mais cara das jóias”.