Logo após “To Pimp a Butterfly” ganhar o mundo, em 2015, Terrace Martin e Kendrick Lamar sentaram para uma rápida conversa filosófica sobre o crescimento da falta de sensibilidade e compaixão na sociedade. Nessa troca de ideias desenvolveram as bases de “Drones”, música que intitula o mais recente álbum do músico, produtor, cantor e cabeça pensante da Sounds of Crenshaw. Para trazer à tona as inquietações de mais de seis anos atrás, Martin convidou amigos, vizinhos e colaboradores para debaterem sobre o meio ambiente, tecnologia, o estado do mundo e negritude.
Isso foi essencial para a criação de um disco que tem por objetivo equilibrar o desmascaramento e a celebração da experiência vivida pelos negros americanos, descrita pelo próprio autor como uma “Disneylândia Negra”. Como essa vivência é uma realidade coletiva, Terrace não queria mostrá-la somente a partir da sua ótica da vida diária. Convidou um time de artistas com a mesma visão e propósito: o próprio Kendrick, Snoop Dogg, Leon Bridges, Cordae, Ty Dolla $ ign, Robert Glasper, Kamasi Washington, YG, James Fauntleroy, D Smoke, Channel Tres, Smino, Celeste, Malaya, Kim Burrell e Hit-Boy.
Consistente e sofisticado, ele passeia de forma coesa pelas diversas vertentes da música negra. Vai do magnético g-funk da faixa-título, tendo Kendrick Lamar, Snoop, Ty Dolla e Fauntleroy desenrolando as ideias sobre como podemos funcionar como autômatos em relacionamentos, ao jazz de “Griots of the Crenshaw District”, produzida por Hit-Boy, que permite a Martin uma troca efusiva com Kamasi e Glasper.
Inevitavelmente, também abre espaço para canções mais quentes, sensuais e tempestuosas, como “This Morning” e “Reflection”, e faz uma conversa com o samba-rock em “Silk of Cryin’”, interpretada por Leon Bridges e D Smoke. “Há toques de R&B, toques de jazz, toques de hip-hop, toques de música clássica, música cubana, música da África Ocidental, house music”, diz. “Você vai ouvir todos os elementos da música negra. Não é um elemento que eu possa deixar de fora se me chamar de um verdadeiro artista negro.”
Um dos artistas mais versáteis da sua geração, Terrace Martin mantém esse status atualizado com “Drones”. A viagem ao seu universo particular é sensível e intensa. Ao entrar na atmosfera criada por ele, sair não está entre as opções.