No momento em que o diálogo está cada vez mais escasso, Mano Brown decidiu abrir o microfone para conversar com que muita gente não fazia questão de ouvir a voz. Esse é o caso do político Fernando Holiday, conhecido por seus posicionamentos direitistas e ataques às lutas do Movimento Negro, e a Karol Conká, eliminada com 99% de rejeição no reality show mais assistirmos do Brasil. “Eu achei poucas pessoas que me apoiaram em falar com a Karol, mas ela precisava ser ouvida de uma forma natural”, afirmou Brown em coletiva feita a jornalistas. “Uma rejeição de 99% me interessa muito, talvez eu tivesse uma rejeição maior que a dela. Em alguns momentos, eu conversando com ela, eu comparava ela com a minha mãe, e esse olhar fez o diálogo fluir melhor”.
A rapper é quem abre a primeira temporada do podcast Mano a Mano, que irá ao ar todas às quintas-feiras no Spotify, a partir do dia 26 de Agosto. No total serão 16 episódios com a participação de diferentes personalidades da música, esporte, religião e entretenimento. Também estão confirmados o médico Dráuzio Varella, o pastor Henrique Vieira, e o técnico Vanderlei Luxemburgo. O objetivo do MC “não é criar confrontos de ideias, mas abrir uma possibilidade para o diálogo”. Fugir da polêmica também não será uma opção.
“Há temas que não tem como você se acovardar e não falar. Eu tenho o meu jeito de pensar… mas eu também não estou fechado a entendimentos novos”, disse. “Eu não sou um cara com pensamentos concretizados. A gente está sempre em transformação e aprendendo. E eu tenho aprendido muita coisa. Há momentos que é necessário se posicionar… é um diálogo. O Mano Brown não passa a ser neutro porque tem uma pessoa com uma visão contrária da dele. Eu continuo sendo e pensando o que eu penso… com tendencias a se interessar por outras ideias, eu não estou fechado”.
Foto de capa: Pedro Dimitrow
Expor as ideias além da música foi um incentivo dos amigos. Assim como diversos brasileiros, principalmente pretos e periféricos, eles têm Brown como referência. Por isso, querem saber quais são suas opiniões sobre os mais diversos assuntos que permeiam a sociedade brasileira. “A gente investiu nesse lado meu. Eu sempre fiz isso em forma de batida… e as pessoas falavam assim: você está cheio de coisa pra falar, por que você não potencializa isso? Eles falaram que estava precisando. Então, eu vou falar. A gente tem que usar o espaço que toda a filosofia negra e a conscientização e na ciência negra é muitas vezes banalizada no Brasil, entendeu!?”
Apesar de Mano Brown ser uma voz ativa muito respeitada, a aceitação da escolha de Holiday e Conká não foi unânime. Teve questionamento dos mais próximos e, principalmente, dos que só o conhecem pelos rap e posicionamentos. Porém, ele não quer seguir o clichê de julgar sem antes entender o por que daquela posição. “Você tem que ouvir o outro, clichê é ideia velha que você quer passar como nova”. Dessa forma, ele pretende compartilhar conhecimentos, gerar o diálogo, informação e também entretenimento.
“Fazendo, você entende como é difícil para um repórter, um jornalista, a pessoa que tem que vincular notícia… abordar um convidado e tirar dele a verdade, tirar o que você quer que as pessoas saibam. Então, isso é uma ciência também, não é simples”.