É mais que evidente que o R&B brasileiro está ganhando forças novamente. Somente nos últimos 2 anos uma série de artistas surgiram no cenário para reacender a chama de um gênero que, de certa forma, foi perdendo forças por aqui. Mas podemos olhar para o horizonte com uma certa esperança – e muita expectativa. Talentos promissores não faltam. Na gigantesca lista, incluímos a cantora Indy Naíse. Quem acha que ela chegou recentemente se engana. O seu início foi em 2014. Quatro anos depois, fez sua estreia oficial com o álbum “É Questão de Cor”. Essa foi uma primeira amostra de todo seu potencial e diversidade musical, mesclando a urbanidade com sonoridades regionais.

Agora, Indy sobe um degrau a mais com o EP “Esse é Sobre Você”. A arquitetura feita por Rincon Sapiência está alicerçada no alt R&B (propagado por Kelela, SZA, Jorja Smith). E não é somente na estética. As composições também seguem fielmente o conceito proposto. É uma narrativa sobre relações, afeto, carinho, paixão, confissões, amor-próprio. É uma trama romântica muito bem roteirizada – inclusive o visual traduz esse sentimento compartilhado.

“Fala sobre as fases de um relacionamento numa ordem cronológica”, diz Naíse. “Eu digo que é do início ao recomeço, não do início ao fim, porque acho que é importante falar sobre autoamor, auto-suficiência, sobre a gente se reencontrar em si mesmo quando termina uma relação. Não é sobre alguém específico, mas afeto em si”.

Essa dualidade é enfatizada em “Lírios”. O destino da mensagem pode ser a uma pessoa específica ou para si próprio. Você escolhe. Uma certeza é que esta fará parte da playlist feita especificamente para os momentos de romantismo, seja com ou sem companhia. O mesmo acontece com “É Sobre Você”, feita com D’Ogum, e “Cicatriz Lunar”, complementada pelas rimas cirúrgicas da Drik Barbosa (a união perfeita). A obra está coesa. Tem sensibilidade. Não há desvio de direção. Uma música guia a outra . Indy Naíse mantém o foco naquilo que propõe entregar. Reflete seus amores, e também as dores – que, inevitavelmente, se faz presente na vida de quem ama.

“Eu sempre falei muito pela perspectiva das minhas próprias feridas. Pela perspectiva das violências que eu sofri enquanto um corpo preto, mas nunca sobre afeto. Então, chegou o momento de eu falar sobre e dar atenção a isso. Reivindicar que não sou apenas as minhas feridas é uma necessidade e também um ato político”.

Fotos: Vitor Manon