Os dias são turbulentos. O fim parece que não chega. Mas a vida segue sem parar. A arte, de alguma forma, tem dado alento aos que estão confinados. Por outro lado, a classe artística (principalmente os independentes e aqueles que não estão ligados à música) tem passado dificuldades para se manter. Então, convidamos alguns artistas gráficos (ilustradores, pintores, grafiteiros) para apresentarem seus trabalhos na coluna “Quem faz ARTE”. O objetivo é mostrar ao público as obras, ideias e inspirações que eles têm para compartilhar.
Quem abre a série é o designer, ilustrador e arte educador Emerson Dias. De Hortolândia, no interior de São Paulo, ele já assinou capas de singles/EPs/discos/projeções do Cidade Verde, Primeiramente, Lukas Kintê, Pedro Visk, Alison Maia, Rap Bakee e os MCs Caio e Caique. Porém, as suas linhas não se limitam a encartes. Está inserida em diferentes planos, do papel ao concreto. O amor pelo desenho aflorou ainda na infância, muito influenciado pelo o que assistia.
“Sempre gosto de enfatizar dois acontecimentos que para mim foram muito fortes na manutenção dessa paixão pelo desenho. O primeiro fato foi eu gostar muito de assistir desenhos animados na TV, em especial Dragon Ball Z. Esse desenho aflorou a imaginação de grande parte da minha geração (muitas crianças copiavam nos cadernos os personagens desse desenho)”, diz. “O segundo fato que considero muito importante foi a descoberta dos graffitis nos muros da minha cidade. Aqueles desenhos me levavam para um outro universo de imaginação e possibilidades, um estilo totalmente novo (para mim) que iria me influenciar muito”.
Reservado e introspectivo, Emerson encontrou no desenho uma forma de se comunicar. Aos poucos, a timidez foi o empurrando para a arte. Assim, começou a criar seu estilo através da observação do que via nos muros e revistas. “Como na minha infância não tinha acesso à internet eu não tinha essa noção do todo de que existia na arte, além da minha cidade. Então, os artistas da minha cidade sempre foram essa referência mais próxima pra mim”.
A identidade visual desenvolvida por ele é reconhecível em qualquer lugar: cores, formas, feições, matizes. Os rappers Zudizilla, Mano Brown, Sain, FBC e Rincon Sapiência e RAPadura são alguns dos que ganharam ilustrações com os traços modernistas do desenhista. A técnica que usa atualmente foi formatada ao longo do tempo, na prática (entre erros e acertos). Porém, só ela não traz resultados. É preciso algo a mais.
“Não sou muito apegado nessa parte técnica. Tudo ocorreu de forma mais natural pra mim, até por que acredito que o conceito e a mensagem são tão importantes quanto a técnica. Pra mim não é interessante ter uma arte super avançada tecnicamente e ela não ter muito o que dizer além disso. Tendo isso em mente eu tento trabalhar sempre esses dois lados: técnica e conceito. Outra ferramenta para minha evolução é tentar entender os processos de outros artistas que admiro, gosto de assistir entrevistas, bate-papo sobre arte, programas que abordam a arte como tema e documentários”.
Tudo faz parte de um processo criativo, que, no caso dele, começa antes mesmo do ato de desenhar em si. É tudo arquitetado com detalhe. “Durante o dia eu fico trabalhando na ideia dentro da minha mente como que eu vou colocar isso de forma gráfica, penso nas formas e nas cores mentalmente, as vezes eu anoto minhas ideia no papel, quando não vou ter tempo de trabalhar elas no mesmo dia”, revela. “Depois que trabalhei a ideia na minha cabeça eu vou atrás de referências vou procurar na internet imagens do que vou representar, com isso tudo em mente eu começo a fazer o rascunho, em média faço três rascunhos, quando chego na forma que me agrada eu faço os traços finais, logo em seguida trabalho nas cores, e por ultimo eu trabalho nos efeitos como luz, sombra e degradê.
Emerson Dias também transmite seu conhecimento a crianças e adolescentes de projetos assistenciais e escolas públicas em workshops, oficinas e palestras. As artes dele podem ser conferidas no Instagram (@emersondiasm5) e no behance.net/emersondias.
