Conheci o trabalho da Bárbara Bivolt com “Olha Pra Mim”. Até então não sabia que ela já tinha uma caminhada nas batalhas. Sabe-se que nem todos que dominam o freestyle conseguem ter a mesma desenvoltura nos registros. Mas a Bivolt desenrola facilmente as duas modalidades. Isso ficou ainda mais evidente na performance dela que acompanhei no Rock In Rio 2017 – até conversamos (leia AQUI). Apesar da dupla voltagem, a chave está quase sempre no 220. A tensão é alta. E não é só no palco.
Toda essa energia, Bivolt distribui entre as 14 tracks do seu auto-intitulado álbum de estreia. Não há fórmula pronta. E nem dá pra imaginar a MC seguindo regras. Com equilíbrio, ela consegue juntar diferentes referências (os seus 2 extremos) sem fazer com que soe estranho. É versátil. Tem de tudo um pouco, mas nada está jogado. A organização é precisa. E o caminho sem volta.
Do boom bap de “Você Já Sabe”, ela se conecta com o neo-soul de “Me Salva”, passando por um gangsta noventista em “Murda Murda” ao lado de Tasha & Tracie. Essa explode em qualquer falante. Faz tremer o ambiente. Perfeita para esquentar ainda mais o baile. O papo das três é bem reto. Exalta a liberdade das mulheres. Independente de qualquer opinião, elas não precisam provar nada para ninguém. Dependem apenas delas.
As mesmas ideias estão nas linhas de “Cubana”, porém com um teor a mais de acidez. O mambo – com influências jazzísticas – dá sensualidade. Os beats carregados aumentam a temperatura. Se cair na rádio, vira HIT. Na pista, ninguém para. Difícil não se envolver.
A conexão da Bivolt e Nave é contínua, sem desvios. O mesmo acontece com as demais parcerias. “Tipo Giroflex”, no fechamento que fez com Jé Santiago, entra na lista daquelas para tocar no som do carro de porta-mala aberto. Apesar da moderação nas interpretações, o g-funk corresponde a expectativa da rua. Os graves estrondam. E a narrativa reflete a vida daqueles que estão na luta diária para atingir a meta de realizar os sonhos. As subsequentes “Peixinhos” e “Susuave” seguem o mesmo direcionamento, inclusive na potência. A surpresa está na impactante “Nome e Sobrenome”. Xênia França traz suavidade. O ragga envolve, cativa, seduz.
Fato é: Bivolt [e todos os envolvidos no projeto] fez um plano perfeito. Se há erros, é difícil observar a “olho nu”. As bases são firmes. É conceitual, diverso, único, impactante.
(Impossível não citar a experiência interativa feita pela agência AKQA para os vídeos de ‘110v” e ‘220v’. Ambos foram criados para apresentar os dois polos da Bivolt. Apesar de serem distintas [uma mais soft e a outra hard], elas se complementam e formam uma música inédita que apresenta os dois moods ela em perfeita sincronia.)