A fase do Emicida das rinhas passou. A do combatente “raivoso” também. O momento dele é outro. A realidade também. Entender a proposta de “AmarElo” não é algo que vai ocorrer imediatamente. É claro que Leandro continua fazendo sua política. Mas encontrou um outro modo de manifestá-la. Está mais leve. Ameno. Porém, não abandonou a contundência. “Ismália” reflete muito bem esses contrapontos.
Quase sussurrando, ele narra crimes em que pretos foram alvos, da escravidão aos dias atuais. É uma conversa sensível, quase que proibida. Emotiva. Os vocais de Larissa Luz e a declamação do poema Ismália de Alphonsus de Guimaraens da Fernanda Montenegro contribuem para isso. É forte. Reflexiva.
Da celebração ao amor em “Principia” até o canto de liberdade na fervorosa “Libre”, Emicida percorre por diversos caminhos que ao final se encontram. Tem suavidade. É RAP, mas não é. E essa foi a forma encontrada por ele para se aproximar de um público fora das imediações do RAP. E o terreno foi bem preparado para isso.
Sustentado por uma mescla de sonoridades, ele trata de assuntos corriqueiros do cotidiano, como em “Pequenas Coisas da Vida. É simples, mas profundo. Faz reflexões sobre o corre da vida adulta. Da paternidade. Do amor. Da amizade, enaltecida em “Quem tem Amigo tem tudo”, uma ode à Wilson das Neves feita com Zeca Pagodinho. É divertido – indo contra “as leis” do RAP, como ele brinca com a filha na introdução de “Cananéia, Iguape e Ilha Comprida”. Romântico. Equilibrado.
De início, a expectativa era que o trabalho tivesse o direcionamento ‘enérgico’ de Eminênia Parda” e “AmarElo”. Mas Emicida abriu o leque de possibilidades e escolheu a calmaria. Levantou a bandeira do afeto para mostrar que neste momento “tudo o que nóiz tem, é nóiz – na perspectiva de que o ser humano é o problema é ao mesmo tempo a solução. E a união faz a força.
*Foto: : Julia Rodrigues
Indicamos também: A playlist do Mano Brown tem várias “pedradas” da black music. Leia aqui.