As bases do afro-futurismo, que se fundem com o RAP, reggae, samba, dub e referências sonoras das religiões afro-brasileiras, sedimentam o terreno para que o ex-lutador de taekwondo Diogo Silva (medalhista de ouro nos jogos pan-americanos de 2007), MC Sombra, Minari e Junião confrontem os personagens da política brasileira.
Toda essa musicalidade faz parte de “Represença”, disco que comemora os 10 anos do Senzala Hi-Tech. Nas composições, eles abordam assuntos que permeiam o Brasil desde que os portugueses chegaram por aqui. São porta-vozes da (chamada) minoria, que na realidade representa a maioria da população do país. Reafirmam a presença, importância e protagonismo do povo preto na “terra da pilantragem” – que insiste em invisibiliza-los.
“As letras nos remetem a como agimos a determinadas informações e como somos frágeis para interpretá-las. Entender que a corrupção é ambidestra, não tem lado e é mais antiga que o Brasil. É necessário que o país seja violento para que alguém possa vender segurança e é sobre isso que falamos: práticas antigas que ganham novas roupagens com novo personagens”, diz Diogo.
Da quase exterminação dos indígenas, passando pelos 300 anos de escravidão (não reparados), e chegando na perturbadora realidade, permeada pela opressão, violência, discriminação racial, pilantragem política, notícias fictícias e imposições ideológicas – disfarçadas de bons costumes do cidadão de bem.
A tonalidade crítica é amenizada pelo instrumental dançante carregado de percussão, muito influenciada pelo candomblé, que faz o contraponto para mostrar as duas realidades da brasilidade: os problemas estruturais, que estão enraizados na cultura, e a genial diversidade de sons proporcionada pela influência dos diferentes povos, em sua maioria oriundos da África.
O objetivo principal de “Represença” é alertar ao público sobre soluções fáceis, que são constantemente prometidas pelos detentores do poder. “Primeiro questione, depois reflita e depois questione novamente”, dizem. “Não podemos nos dar ao luxo de ignorar as questões políticas e sociais do Brasil, vivemos um tempo onde se posicionar é cada vez mais importante e isso reflete muito no nosso trabalho”.
*Foto capa: José de Holanda
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