A indústria da música sempre foi um jogo decisivo. Ganhar é o único objetivo. E na disputa está a reputação e, principalmente, o dinheiro. O DJ Khaled é um jogador nato. Por isso, teve um ataque de fúria quando ficou sabendo que “Father of Asahd” não conseguiu alcançar o pico da principal chart da Billboard. Tyler, the Creator superou as expectativas., fincando a bandeira de “Igor” centímetros acima do lugar que estavam prevendo. Sem querer, contrariou um dos mais badalados hitmakers da vertente mais pop do rap.
Khaled “vendeu” o disco como o melhor de sua vida. Aí, a frustração bateu após observar que parou na segunda posição, mesmo tendo um pesado investimento em mídia e publicidade. Fontes ouvidas pelo Page Six revelaram que ele esbravejou [de forma violenta] com a equipe da Epic, que “por acaso” é dona da Sony, representante da Columbia, o selo do Tyler.
O motivo do “declínio” não girou apenas em torno da possível incompetência do time responsável pela promoção do projeto. A Billboard, que elabora as listas conforme dados de vendas físicas, streams e downloads geralmente fornecidos pela Nielsen, também entrou na roda. Khaled até ameaçou processar a revista por não colocá-lo na liderança. E seus representantes logo entraram em ação. Curiosamente, na chart de rap/hip hop ele ganhou a posição do concorrente. Mas na principal não saiu do lugar.
Uma das reclamações do DJ é que os mais de 100 mil downloads feitos através de uma parceria com a marca de energéticos Awake Energy Shot não entraram na conta da Billboard. Assim, ele não conseguiu atingir a meta. No final das contas, juntando streamings e vendas [sendo que o download tem um peso maior], “Igor” rendeu 74 mil cópias, enquanto “Father Of Asahd” teve apenas 34 mil. Ao todo, somando as transmissões e as cópias comercializadas, Tyler vendeu 165 mil álbuns na semana de estreia, e Khaled 136 mil.
Diferente do acordo que Jay-Z fez com a Samsung em 2013 para lançar “Magna Carta Holy Grail”, resultando em 500 mil arquivos baixados, a collab entre DJ Khaled e a Awake não estava dentro dos critérios considerados na contabilidade, pois – supostamente – incentivava os fãs a comprarem 12 packs da bebida para jogar o pai de Asahd para o topo da lista. O ato irregular desqualificou a escalada.
A Vice observa que a Market America, controladora da Shop.com, loja virtual que vende a Awake, é “uma empresa de marketing multi-nível, que em 2017 foi acusada de ser um ‘esquema de pirâmide ilegal’ que visa imigrantes chineses para injustamente aumentar suas cotas de vendas. Já Deanna Brown, presidente do Billboard-Hollywood Reporter Media Group disse que a decisão foi tomada, porque “vimos uma organização incentivando compras entre seus membros prometendo-lhes benefícios materiais e organizacionais”.
Para Desiree Perez, chefe de operações da Roc Nation, responsável pelo gerenciamento da carreira de DJ Khaled, que o modelo de trabalho exercido pela Billboard é como uma espécie de corrida armamentista semanal que deveria ser banida. “Nós contestamos a decisão deles em nome do DJ Khaled e, francamente, todo artista que é forçado a navegar por um álbum com um item barato que ainda representa efetivamente sua marca, é confuso e humilhante para a arte”, disse ela em comunicado, segundo artigo publicado pelo The New York Times que aborda o funcionamento das paradas de sucesso e as colaborações entre artistas e marcas.
De fato, a corrida para chegar na frente de todos é bem frenética. Dessa forma, a arquitetura tem que ser muito bem feita. Precisa corresponder com o que o público quer ouvir e as majors dispostas a vender. No caso do Khaled esses quesitos ficam evidentes pela quantidade de grandes nomes que ele escala para os seus LPs. Tudo faz parte do plano.
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