Sem avisar, Solange Knowles soltou “When I Get Home” – uma “tática” também usada por Beyoncé, irmã dela, para mostrar ao mundo o bombástico “Lemonade”. Os rumores que surgiram horas antes do disco ser liberado causou grande expectativa nos apreciadores de Solange, a celebrada “deusa cult” da música.
“When I Get Home” tem uma certa densidade, talvez a foto que ilustra o projeto seja um reflexo do que ela pretende compartilhar. Solange é cuidadosa. Se preocupa com os detalhes da arquitetura, principalmente na inserção de pianos e sintetizadores. Ela é precisa nas variações de smooth jazz e R&B. Tudo com muita suavidade e equilíbrio. É quase um pout-pourri de baladas com análises de períodos evolutivos, de erros e acertos, do racismo vivenciado no Texas, da representatividade negra.
Tem uma certa introspecção. Se tivesse uma recomendação, seria essa: para cabeças pensantes pensarem. É claro que não está vedado para quem pretende somente curtir, sem compromisso. Mas as mensagens são muito sinceras para passarem desapercebidas.
Solange conversa com quem estiver interessado em ouvir. E não está sozinha. Tyler, the Creator, Gucci Mane, Sampha, Chassol, Playboi Carti, Standing on the Corner, Panda Bear, Devin the Dude e The-Dream são alguns dos seus companheiros na troca de ideias. Na ilustração de algumas delas, Solange inseri samples de Debbie Allen do Third Ward, Phylicia Rashad, Pat Parker e Scarface.
Os 39 minutos de “When I Get Home” são representativos, ao menos para a protagonista que vive um período de transformação. Talvez “Almeda” seja uma das mais expressivas neste sentido. Solange celebra sua negritude. “Estas são coisas de propriedade negra / A fé negra não pode ser lavada / Nem mesmo naquela água da Flórida”, diz um dos trechos. “Stay Flo” segue a mesma linha, mas com uma quantidade elevada de acidez – sempre mantendo a sobriedade. É um protesto que pede para as pessoas se colocarem no lugar dos pretos, assumindo os aborrecimentos que eles sofrem simplesmente por causa da cor da pele.
Com sua genialidade, Solange dá continuidade a linha de raciocínio iniciada 3 anos atrás com o cultuado “’A Seat at the Table”. Amarra um trabalho ao outro para acertar as contas com o seu passado. A diferença é que no atual, ela está mais objetiva, franca. “Afunda” o dedo na ferida… E sai tranquilamente com o sentimento de dever cumprido.
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