Acompanhei bem pouco o trabalho feito pelo 3030. A “banalização” criada em torno do rap acústico me impediu de parar e dar uma atenção ao que eles, de fato, estavam fazendo. Mas, felizmente, a ONErpm Brasil me deu a oportunidade de ouvir “Tropicalia” nos mínimos detalhes, dias antes de chegar aos streamings. Fiquei surpreso. Não tem nada relacionado a jams dominadas por voz, violão e o famigerado cajón.
“Justamente. A proposta desse disco é outra, com mais elementos eletrônicos. Mas a gente não vai abandonar essa parada acústica”, afirma Bruno Chelles.
De forma coesa, e com muito equilíbrio [inclusive no uso do auto-tune], Rod, LK e Buno fazem uma interessante fusão de trap, reggae, bossa e funk. O método não é inovador, mas tem consistência. Acertam nas parcerias, criando um alto escalão formado pelos gringos Big Mountain, Cozz [que faz parte da banca do J. Cole], HitBoy e FKi 1st, e Luccas Carlos. De ponta a ponta, eles mantém a base conceitual que propõem, tendo como inspiração o Movimento Tropicalista, que nos anos de 1960 ousou em unir a música brasileira com o rock britânico, inserindo de vez a, até então, odiada guitarra elétrica na realidade musical do Brasil.
“Hoje, fazemos a comparação da guitarra elétrica com o auto-tune. Muita gente ainda torce o nariz, não aceita. Mas é um elemento que faz parte da música pop, do rap… é uma tendência que a gente está trazendo para a nossa música”, ressalta Bruno. “Estamos passando por uma fase da nossa carreira bem parecido com o que aconteceu no tropicalismo. Foi uma mistura de gêneros… uma época em que a música brasileira passou por uma revolução. E a gente acredita que estamos passando por essa revolução em nossa música. Estamos misturando o pop com uma sonoridade mais regional. É uma reinvenção do nosso trabalho da mesma forma que aconteceu no Tropicalismo”.
A mudança de caminho no quesito musical fica evidente, se compararmos este com os demais trabalhos do trio [que separei um tempo para ouvir], mas a essência lírica foi mantida. Eles versam sobre positividade, a vida espiritual, o amor – sempre com aquela dose de malandragem. ‘Gato Preto’, “Tanta Beleza’ e ‘FreaK MoDe’ são as músicas perfeitas para a pista [bem quentes]. A mais politizada das onze, é “Me Julguem”. Os versos “raivosos” de Rodrigo Cartier manda o recado para aqueles que se adiantam em criticar, porém não tomam atitudes para mudar a realidade na prática. “Caos” também merece atenção. Tem peso.
“Eu não posso fazer um ‘Quinta Dimensão’ melhor que aquele, nem um ‘Alquimia’ melhor que o ‘Alquimia’, mas posso fazer um ‘Tropicalia’ completamente diferente de tudo que vcs já viram!”, diz Rod. É isso: “Tropicalia” é para curtir, viajar.
3030 – Tropicalia
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