Kanye West é amado por aqueles que o odeiam. Os posicionamentos e asneiras compartilhadas (seres humanos fazem isso o tempo todo) colocaram ele contra a parede ideológica. Mas Yeezy ficou tranquilo. Manteve seus posicionamentos. Desdenhou das críticas. E continuou emitindo opniões.
No caso de Kanye, aquela máxima “ame-o ou deixe-o” parece não se encaixar, pois aqueles que “cospem no chão quando ele passa”, ou simplesmente desaprovam suas anedotas, são os mesmos que o aplaudem (claro que em segredo) e consomem sua arte. Haja visto que as 7 músicas que compõe “Ye” estão entre as 7 mais ouvidas no Spotify e Apple Music, e são as mais procuradas no Genius. Pessoas mentem, números não. “Ye”, nos seus primeiros dias de vida, atingiu mais de 3 milhões de audições. Fenomenal.
É verdade que Kanye West é um “gênio”. Os Médice investiriam nas obras dele. No entanto, não se pode generalizar. Nem tudo que ele produz ou arquiteta é incrível – inclusive os tênis. Ele tem seus deslizes – não contando com as teorias que defende.
“Ye” é um trabalho excelente, mas não chega a ser extraordinário – como muitos estão dizendo. Tem a mesma essência de The Life Of Pablo. Coloque todas as músicas na playlist aleatória e não sentirá a diferença entre os dois trabalhos. Obviamente, os convidados que foram a Jackson Hole, no Wyoming, de jato particular fretado, para ouvir “Ye” pela primeira vez (em volta da fogueira) não estarão de acordo com minha afirmações. Os apreciadores dos trabalhos de Kanye também não. Sem problemas. (A intenção não é fazer uma crítica que analise as intenções de West – não tenho essa pretenção -, somente ele pode dizer a respeito do que pretende com seu trabalho)
“Ye” tem sinceridade. É simples. Na estrutura musical segue a velha receita minimalista, implementada por Yeezy há algum tempo, de que mais é menos. As artes das capas também mostram o ideal.
Kanye West está “sóbrio”. Às vezes sombrio. Parece emotivo. Preocupado. Reflexivo sobre questões diversas, do passado e futuro. Trata da bipolaridade, algo não incomum para ele. Se justifica. Enaltece o amor próprio, porém logo em seguida cita a vontade de cometer suicídio e matar alguém (“I Thought About Killing You”). Crônicas da vida real.
Inquieto, Kanye aborda temas que externam situações, problemas relacionados a depressão. Difícil entender a motivação, porém aos poucos (depois de ouvir diversas vezes) você compreende as linhas.
A escuridão inicial é amenizada em “Wouldn’t Leave”. “Ghost Town” traz algumas respostas. Lembranças infantis. A influência gospel de TLOP volta ao recinto. “Violent Crimes” mostra uma mudança de postura, da visão. Talvez seja a redenção do artista.
Kanye West é inteligente. Soube segurar a atenção. Os 23 minutos de “Ye” são confessionais. Yeezy é genial porque faz o ouvinte tentar decifrar a mensagem. Não é fácil. Tem que ir tentando, até encontrar o código correto. A estratégia deu certo. Sete, o número da perfeição, foi bem utilizado. “Ye” faz o ouvinte querer mais. Então, você vai lá e ouve novamente.
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