O hip Hop NUNCA foi aceita pelos grandes meios de comunicação. Ela é usada somente quando convém, seja o graffiti, o break, o DJ e, principalmente o rap. Esse último, no Brasil, ainda vai demorar para ter aceitação real. Somente alguns (poucos) conseguiram se estabelecer e furar a bolha. Mas isso não quer dizer que as portas estão totalmente abertas. É mais pela conveniência do que pela vontade de realmente dar voz a uma cultura nascida e criada na periferia.
Uma prova é a extinção das produções do Manos e Minas programação da TV Cultura. No Ar nas madrugadas de quarta-feira, apenas com reprises, ele está na ativa como programa independente desde 2008 (A partir de 1993, ele entrou na grade como um quadro do Metrópolis). Esse desmonte começou a ser feito em 2019. Mas essa não foi a primeira vez. Há 10 anos, o então presidente da Fundação Anchieta, responsável pela gerência, João Sayad determinou o seu fim. Porém, após protestos – principalmente nas redes – a extinção foi adiada. Agora, com o M&M fora da grade, o canal no YouTube também foi excluído sem mais nenhuma explicação. Isso pode parecer algo inútil, mas não é. Tendo em vista que este é o primeiro – e único – programa voltado à cultura Hip Hop da tevê aberta no Brasil, a ação resulta no apagamento de uma parte da história. O programa deu acesso para que MC’s (principalmente os independentes), DJs, Bboys, poetas e grafiteiros mostrassem suas artes em rede nacional. Também levou pessoas de regiões periféricas para marcarem presença no auditório.
Tirar esse tipo de conteúdo do ar também dificulta a pesquisa de historiadores, pois o Manos & Minas sempre foi uma fonte de muita informação sobre cultura urbana (Teve uma reportagem com o Dexter ainda preso em Hortolândia; Emicida no começo de carreira; Mano Brown lançando Boogie Naipe e falando sobre a importância do Manos e Minas; diversas reportagens e entrevistas com artistas do Brasil e do mundo). No entanto, pelo visto, não há uma preocupação dos gestores da emissora paulista de manter esse poço de conhecimento aberto. O motivo ninguém sabe. Mesmo se tivesse teria que ser extremo, pois manter os vídeos no YT não gera gastos para os cofres do Estado de São Paulo – a TV Cultura é uma rede pública “custeada por dotações orçamentárias legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada”.
A decisão tomada parece ir no caminho contrário com o lema que a Cultura tem usado atualmente: vamos movimentar a cultura. Não se sabe qual é o tipo de cultura e para quem essa cultura é movimentada. As atitudes nos levam a crer que não é para quem não “consome” o erudito. Novamente, o hip hop é colocado de lado, e junto com ele a grande camada da sociedade, que tem nele algum tipo de representatividade e voz.
É lamentável. Novamente um movimento se iniciou nas redes por anônimos, personalidades e mídias independentes. Dessa vez não tão muito forte quanto o anteriormente. Mas ainda há uma expectativa para que a TV Cultura se pronuncie, explique os motivos da retirada do canal e os coloque de volta no ar novamente. Esperança? Pelo caminho que estão direcionando a cultura [em geral] nesse período sombrio, é melhor não esperar muito. Mesmo assim, torcemos para que a CULTURA seja como de fato deve ser: respeitada.