Claro que uma pandemia mundial, como essa que estamos vendo se alastrar nas últimas semanas, afeta várias áreas do cotidiano – inclusive a cultura. E, assim como as pessoas, a indústria musical está enfrentando uma nova preocupação. Já são inúmeros eventos cancelados: feiras, desfiles, estreias de filmes, festivais de cinema. E no mundo da música, nomes internacionais como já entraram para lista. O Coachella, na Califórnia, que deveria começar em 10 de abril, foi transferido para outubro, também com riscos de cancelamento. Além de diversos shows internacionais em vários países, como Maroon 5, que aconteceria hoje (12) na Argentina e foi cancelado de última hora. Aqui no Brasil, o Google destacou que as buscas por “Lollapalooza cancelado” saltaram 4050% em uma semana. E cancelou: Brasil (transferido para 04 a 06 de dezembro), Chile e Argentina.
Mas e o que acontece quando um festival de música é cancelado por conta de uma pandemia?
Estes cancelamentos têm repercussões financeiras para todos os envolvidos: artistas, fãs, funcionários, vendedores e os próprios organizadores do festival. O que acontece depois, e quem é pago, depende de alguns fatores, incluindo cobertura de seguro (ou a falta dela) para festivais e artistas, e se o cancelamento foi voluntário ou determinado pelo governo. De acordo com a Forbes, o mercado de música ao vivo – shows, turnês e festivais – pode ter uma perda de US$ 5 bilhões neste ano.
Tim Epstein, advogado de esportes e entretenimento, explica que os desligamentos obrigatórios do governo podem desencadear “força maior”, uma cláusula contratual que deixa as pessoas fora do gancho por suas obrigações sob o contrato. Epstein acredita que a maioria dos cancelamentos de festivais relacionados ao Coronavírus (Covid-19) ocorrerá sob condições similares de força maior, posta pelo governo.
Por exemplo, a SXSW – festival, que gerou 271 milhões de libras para a economia de Austin no ano passado – reconheceu recentemente que, apesar de ter seguro para situações relacionadas à terrorismo, lesões e outros perigos, não estava coberto por vírus e pandemias. Na falta de seguro, os organizadores de um festival podem comprometer-se em despesas diretas com itens como pessoal e marketing, mesmo que seus cachês à artistas sejam cobertos por “força maior”.
As gravadoras independentes, que tendem a trabalhar com menos artistas em um nível mais profundo, devem sentir mais o impacto destes cancelamentos com baixa probabilidade de recuperação. Além de que, esses eventos são imprescindíveis na carreira de artistas pequenos para emplacar lançamentos e trabalhar como vitrine. Ou seja, remanejando ou cancelando, o planejamento vai por água abaixo.
E os fãs?
Alguns festivais trabalham com uma política de não-reembolso e disponibilizam “free pass” para festivais e eventos futuros. Outros oferecem o reembolso. Os fãs que adquiriram ingressos devem se atentar e ler aquelas letras bem pequenininhas dos contratos e direitos do consumidor. Já os custos de viagens e hospedagem para quem é de fora, é outro papo.
Ainda tem água pra rolar…
Na China, país mais atingido pelo Covid-19 atualmente, essas restrições estão sendo ressignificadas. Artistas e gravadoras estão apostando em transmissões ao vivo/online onde os fãs podem interagir por bate-papo. É uma alternativa que não tapa o buraco financeiro mas mantém a aproximação de uma experiência.
Estamos diante de incertezas. Mas neste momento o importante é não esquecermos dos rostos humanos por detrás de todos os números e estatísticas. E – com cuidado, atenção e empatia – respeitarmos as recomendações de prevenção que chegam até nós!