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RAPadura está entre a tinta da caneta e a bala da arma

O tempo instável da tarde de quinta-feira, 21 de março, contribuiu para que o caos da Marginal Tietê piorasse. O encontro com o RAPadura estava marcado para às 15hs. Mas nos atrasamos. Eu por causa do trânsito. Ele por conta da fome. Do Terminal Rodoviário do Tietê embarquei no metrô sentido a Estação da Luz. De lá, fiz baldeação para a linha amarela até a República. Após 10 minutos de caminhada, na companhia de uma agradável garoa fina, parei bem em frente ao belo mural do Baixo Augusta. Registros feitos, dei mais alguns passos e cheguei no artístico prédio da Matilha Cultural. É agradável, aconchegante, inspirador. Observo tudo, converso, tomo um café. Minutos depois chega RAPadura com sua camisa preta estampada com flamingos, boné com a silhueta de um cachorro [emblema da Matilha], blusa na mão e vans nos pés. “Esse cabra eu conheço”, disse ele ao me cumprimentar, lembrando de uma conversa que tive com ele e o Rashid no Twitter [leia AQUI]. No café / sala de apresentações, um reggae ecoa bem alto das caixas enquanto o palco é preparado para o show do congolês Erick Kalonji que rolaria mais tarde. Subimos dois lances de escadas para trocarmos ideias no “silêncio”, ou quase isso.

Sempre envolvido com a música, Francisco Igor Almeida dos Santos é da pequena Vila de Lagoa Seca, em Fortaleza, no Ceará. Seu pai, Francisco Luiz, que fazia dupla com Zé Robô, foi indiretamente um dos responsáveis por inseri-lo no meio artístico. As apresentações de brega fazia a alegria da população. RAPadura estava não perdia uma. “Eu acompanhava ele quando ia tocar embaixo dos pés de manga, de uns cajueiro. Minha mãe sempre cantava ciranda, músicas típicas de lá, enquanto nos balançava na rede”, diz. Apesar de dura e desigual, a infância foi boa. O quintal de casa se dividia entre a praia e o mangue. A pesca trazia o sustento para a família. A arte popular divertia. “Meu primeiro contato foi com a dança. Dançava lambada, dançava forró. Até ganhei alguns concursos quando era criança”. A introdução precoce à música definiu o futuro daquele que seria um dos maiores expoentes da cultura nordestina brasileira no rap.

O rito de passagem não demorou para acontecer. A migração dos pais para o Distrito Federal nos anos de 1990 se tornou o ponto de partida para um caminho sem volta. “Eu conheci o Hip Hop em Planaltina, no DF. Era meados de 97/98. Conheci através do break. Um amigo me apresentou Câmbio Negro e Thaíde. Ele também dançava, mas fazia uma coisa que eu ainda não tinha feito: cantar. Ele foi o primeiro MC que eu tive um contato direto. Logo me apaixonei: ‘Caralho, isso é muito doido’, disse. Aí, eu parei um pouco com o break e entrei de cabeça no rap”. RAPadura levou a atividade a sério. Não queria que fosse mais um passatempo. Aos 13 anos começou a compor. Um ano depois fez sua primeira apresentação na escola. Sucesso absoluto. “Já a segunda apresentação foi num concurso de rap. Eu era a única criança que fazia rap naquela região e ganhei o concurso… No meio de vários caras foda. Depois disso não parei mais”, enfatiza.

Francisco transformou-se em RAPadura. Infelizmente, assim como o doce típico do nordeste, ao mesmo tempo que é doce a vida é dura. Apesar do reconhecimento nas ruas, o rap não teve aceitação dentro de casa. RAPadura não era o único. No final dos 90, a grande maioria dos pais não deixava que os filhos ouvissem aquela música “associada à marginalidade, ao crime”. A discriminação com o rap na sua era de ouro – como muitos consideram -, quando o rap contestador estava em alta, não se diferencia do que tem acontecido hoje com o funk e antes vitimou o samba. “A gente apanhava se fosse pego ouvindo rap. E meu pai tinha umas fitas de sertanejo, umas paradas, e a gente às vezes gravava da rádio em cima. Aí quando ele ia ouvir dizia bravo: “vocês gravaram em cima da minha fita”. E a taca comia. Então, a gente tinha que ouvir rap em outros lugares. No meio dos maloqueiros mesmo, porque os maloqueiros que ouviam rap naquela época”.

O preconceito dos pais serviu de gatilho para que o MC principiante criasse uma forma de fazer com que o chamado “som de ladrão” tivesse aceitação dentro de casa. O vinil “Eu e o meu fole” de Luiz Gonzaga fez surgir um insight. “Quando ouvi, gostei da sanfona”, diz sorridente imitando a sanfona (tararam tararararam). “Fazia pouco tempo que eu tinha pegado um computador emprestado pra fazer uns beats. Aí, eu achei essa sanfona interessante e resolvi colocar em cima da batida. Na sequência fiz uma letra, que é “Amor Popular”, que fala sobre a cultura de onde eu venho. Pensei: quem sabe assim meu pai não aceita o rap aqui dentro de casa”. Sem saber se o experimento daria certo, RAPadura gravou uma K7 e deixou no canto. No outro dia foi surpreendido. “Minha mãe estava mostrando pras amigas dela dizendo que eu que cantava e meu pai também gostou. Essa foi uma maneira de derrubar o preconceito que tinha com o rap dentro da minha própria casa. Isso também me incentivou a aprofundar ainda mais na minha cultura… Ir em sebo, compra vinil, comprar cordel”, diz orgulhoso.

A fita cassete responsável por quebrar o preconceito entre os familiares, também serviu para disseminar o trabalho do rapper pela quebrada. Mas, no primeiro momento, não teve muita aceitação. O estilo gangsta que dominava o rap não aceitava risadas. Tinha que ser carrancudo. E RAPadura nem era nome de MC. Não estava dentro do estereótipo do MC marginal. Mas ele seguiu sozinho, algumas vezes à pé e sem muita perspectiva de grana ou garantia de que poderia mostrar suas rimas para os espectadores. “Para se apresentar, eu fazia à pé todos os trajetos. Era coisa de 30 km. Eu não tinha dinheiro pra pagar o busão… Como estava no Distrito Federal, eu ia de Samambaia para a Estrutural, que é coisa de 30 km (30 pra ir e 30 pra voltar), tá ligado!? Todo esse rolê pra cantar 1 som numa quebrada. Eu ia de Samambaia pra Ceilândia. De Samambaia para o Recanto das Emas. Tudo à pé. Lembro que com uns 15 – 16 anos eu vim em São Paulo pela primeira vez com um amigo… Um cara prometeu pra nós que íamos fazer uns shows. Aí, fomos parar lá no Morro do Macaco, em Cotia… Ficamos num lugar fodido, sem conhecer ninguém. Deus abençoou a casa de uma senhora que recebeu a gente e tudo, mas não rolou nada. Fomos enganados.”

RAPadura olha para trás e observa que todas as experiências, principalmente as ruins, serviram de apreNdizado. E não só isso. Talvez tenha sido o combustível para levá-lo a patamares mais altos. Isso reflete na história que ele construiu nos últimos 21 anos. A brasilidade contida no seu rap quebrou as barreias. Xique-Chico também se tornou um dos MCs brasileiros que mais fez turnês na Europa. “O português, infelizmente, é uma língua complicada. Ninguém vai querer aprender português pra entender o que você tá cantando. Então, a gente ganha na musicalidade. Porque a nossa musicalidade é foda e é única, tá ligado!? E é isto que todo mundo quer ver do Brasil: o próprio Brasil!”, diz abrindo um sorriso. Todo reconhecimento entre os gringos, RAPadura conseguiu com singles aleatórios e o EP “Fita Embolada”, que produziu, novamente sozinho,no seu quarto. O método de distribuição mão em mão gerou resultados. Nas contas dele, foram cerca de 15 mil cópias vendidas. “Você tem que sentir e acreditar. Sentiu, foi! Vai trampar, correr atrás”.

A correria compensou. Mas após as duas décadas de “solidão”, RAPadura quer começar tudo do zero. Pretende fazer um recomeço na companhia dos amigos. Quer valorizar ainda mais as relações humanas, sem deixar de expor as mazelas que afligem os brasileiros. Por isso, “reinicia sua carreira” debatendo um tema que está em voga atualmente: a valorização das armas. Se aliar ao cinema foi a estratégia encontrada para mostrar o quanto a falta de investimento na educação, a violência, o consumismo e a ausência de amor são prejudiciais para a sociedade. “O filme trata da guerra travada entre a caneta do poeta versus a arma, que é uma parada que está bem presente nos dias atuais… a violência e tudo isso que está rolando no nosso país, infelizmente. O nordestino tem essa coisa de passar coisas sérias de uma maneira descontraída que é o que eu acho do caralho”, afirma. “É uma maneira de trazer alegria em meio a tristeza, é mostrar a beleza em meio às dificuldades. Não se trata nem do que está acontecendo agora, mas do que sempre aconteceu na história do nosso país”.

A ideia de transformar os versos contidos na música “Quebra-Queixo” em roteiro cinematográfico partiu dos diretores Ricardo Costa e José Simonetti. Todo o enredo teve a inspiração do clássico “Os Fuzis” (1964). Inclusive, o cenário do curto se aproxima do filme de Ruy Guerra. O local escolhido foi a Vila de Picotes, em São Mamede, na Paraíba. “Toda a comunidade local participou. Foi incrível poder ter essa relação humana, de fato. Não só uma parada de atuar, mas sim de sentir, de viver, e de estar com aquelas pessoas tão guerreiras, tão batalhadoras”. Amante da poesia, do cordel e da leitura. RAPadura mostra que a violência não compensa e que a educação e a arte podem salvar vidas. E ele é um exemplo vivo disso. No entanto, o filme é uma pequena amostra do que o cearense está preparando para o futuro. “Estou trabalhando no meu disco, que vai vir com muitas críticas sociais, muitas críticas políticas… por que é o que a gente tá vivendo, não tem como ser diferente. Tá tudo aí. E é o que eu to passando, vivendo, sentindo e vendo. Não tem como falar de outra parada vivendo no Brasil que a gente está hoje. Essa é a nossa realidade.”

RAPadura pegou para si a missão de aproximar as pessoas. O objetivo é compartilhar o amor, para que os pensamentos se afastem da guerra. E para que a tinta da caneta seja mais utilizada que a bala da arma. “Hoje a gente está muito distante. Estamos frios. Tá faltando amor, tá faltando aproximação com as pessoas. Tudo é na internet. Tudo é pelo celular. Ninguém tem mais essa relação humana, de se reunir, de se encontrar… Tá um bagulho muito mecânico, tá ligado. Isso aí vai esfriando as pessoas. Então, a minha esperança é esta: a aproximação humana. Eu tenho 2 filhas e to sempre com elas, porque é importante estar junto agora, não amanhã, não depois quando acontecer uma tragédia.

*Fotos: Paola Vianna

Indicamos também: Djonga, “ladrão”. Leia aqui.

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